Levante, 1487

José Maria Pimentel

Em meados de Agosto de 1487, saiu do Tejo uma frota de duas caravelas e uma urca carregada de mantimentos, com a missão de descobrir a passagem para o Golfo Arábico pelo extremo sul do continente africano. Será a mais longa expedição levada a cabo através do Mar Oceano, devendo percorrer toda a sua extensão pela orla de Levante.

O capitão-mor, Bartolomeu Dias, é apenas a presença de referência do vasto efectivo humano que privará no espaço exíguo das embarcações uma experiência de contornos inimagináveis, narrada por seis dos homens que testemunharam a mais extraordinária aventura náutica até então.

A história começa pela narrativa do Fernão Colaço, o escrivão da urca dos mantimentos, quando esta ficou fundeada na Angra das Aldeias (actual Tombwa) para reabastecer e ali aguardar o regresso glorioso das duas caravelas do até então mítico Promontório Prasso.

Durante nove longos meses de espera, um punhado de portugueses desembarcados estabeleceu um relacionamento produtivo com a população local, acabando por intervir desastrosamente no delicado equilíbrio social entre Kwepes e Kuissis, que constituíam a estrutura tribal das duas aldeias da angra.

João Álvares, o segundo narrador, é o mestre da urca e superintende a instalação de uma unidade de salga de peixe, arquitectada pelo capitão Diogo Dias (algarvio) com o propósito de multiplicar o único proveito que a angra pode proporcionar naquele região desértica.

Mudam os marinheiros de funções tornando precária a ordem hierárquica aos olhos do mesquinho mestre, cujas confidências depreciativas feitas ao amigo Colaço sobre a alegada conduta perdulária do capitão, são ouvidas pelo Nuno Fé, um marinheiro de índole indisciplinada e violenta.

Um pequeno incidente com uma rede cortada suscita a atenção preocupada do frei Ângelo, o terceiro narrador. A sua dedicação ao reconhecimento da condição humana dos autóctones, confronta-o com a dificuldade em incutir-lhes noções como a de culpa e absolvição, ou mesmo a de “domingo” (para quem nem entende a de “semana”). O sigilo da Confissão vem a revelar-se como a noção ainda mais problemática, quando o Sambwo, pescador Kwepe apontado como culpado da destruição da rede, percebe que o clérigo soube sempre quem era o verdadeiro culpado e se absteve de o revelar. Nessa altura, já se fazia sentir um clima de grande crispação alimentado pela forma desigual como o produto da salga era distribuído entre brancos e pretos, agravado por outras circunstâncias entre as quais a ligação amorosa do capitão com a mais notável das esposas do chefe tribal, e precipitado pelo misterioso assassinato do tal Nuno Fé.

É a narrativa (quarta) do capitão Diogo que o descreve, assim como a chacina que vitimou a quase totalidade dos portugueses numa emboscada na praia em que se bateram com grande bravura. Porém, apenas três sobreviventes puderam refugiar-se na velha urca, meio desmantelada e fundeada no meio da angra, sem possibilidade de voltar a navegar. Ali de degladiam em acusações mútuas o João Álvares e o capitão, perante a indiferença atormentada do Fernão Colaço, de olhar perdido na embocadura da angra. Morrerá de súbita comoção com a chegada das caravelas do Prasso, antes que os outros dois oficiais tivessem concluído a obras no batel maior, feitas com o propósito de procurar atingir o Reino do Mweni-Kongo, cerca de 200 léguas para norte.

A quinta narrativa é do capitão-mor Bartolomeu Dias, que traz consigo uma convicção controversa sobre a configuração dos ventos nos mares do sul, e um insustentável problema de autoridade perante os seus oficiais, que não lhe consentiram prosseguir a viagem até Sofala. A tragédia que se abateu sobre a tripulação da urca dos mantimentos, na Angra das Adeias, constitui motivo para um inquérito aos dois sobreviventes, trazendo ao conhecimento do capitão-mor o caso amoroso do irmão com a esposa do chefe local. A situação gera no ex-capitão Diogo Dias um sentimento de que está a ser utilizado pelo capitão-mor para restaurar o respeito da tripulação, permanecendo cego à possibilidade cada vez mais revelada de que o João Álvares pode ter sido o autor da morte do Nuno Fé e ter precipitado com isso a tragédia da Angra.

Desagradado, Diogo Dias transfere-se para a outra caravela. João Álvares permanece na caravela-capitânea onde vai desenvolvendo uma forte cumplicidade com o escrivão Antão, um jovem que conseguiu embarcar ocultando a sua pouca idade, enquanto surge um problema de eminentes implicações diplomáticas, relacionado com o desaparecimento de uma parte da carga pertencente ao passageiro Kassuta, um delegado do próprio Mweni-Kongo, que nesta viagem regressa da corte portuguesa ao seu reino de origem. O apuramento de responsabilidades, conduzido pelo capitão Bartolomeu, corre mal e acaba por provocar várias baixas no Rio Poderoso (Zaire), o que levaria o ex-capitão Diogo Dias a confrontar o irmão com um número de mortes igual ao que ele próprio foi responsabilizado no inquérito. Isto haveria de passar-se enquanto a comitiva que visitava o grande Mweni-Kongo teve que regressar à pressa devido ao estado de saúde do João Álvares que, no delírio de morte, revela as circunstâncias em que matou o Nuno Fé diante da atenção estarrecida do ex-capitão e do Antão.

Diogo Dias leva o jovem fazer segredo do que ouvira, com o intuito preservar a dignidade do falecido e retribuir o facto de este lhe ter salvo a vida na batalha da Angra.

O jovem escrivão toma para si o intento de recompensar este acto de bravura do amigo perdido e convence o capitão Bartolomeu Dias a cumprir as exéquias junto a um penhasco onde constam umas inscrições feitas anteriormente, numa expedição àqueles lugares comandada por Diogo Cão, aludindo o facto de que, entre os nomes ali gravados, consta o de um irmão do agora falecido João Álvares.

Após o funeral, tomado de uma animosidade incontida, o Antão sobe ao penhasco das inscrições, numa arriscada escalada por sobre os rápidos do Rio Poderoso, e acrescenta às inscrições o nome do seu amigo, deixando para a posteridade um tributo imerecido, não resistindo a assinar também, como autor da proeza.

Nesta história, que bem podia ter acontecido, são descritas as grandes linhas do que foram as viagens marítimas até aquela altura, como também revela os propósitos discretos do comércio de escravos, e deixa perceber como as clivagens socio-políticas entre os protagonistas influenciaram os acontecimentos.

Acaba com as caravelas zarpando de regresso ao Reino, num cenário fulgurando de glória, próprio das grandes epopeias.ia de uma das mais importantes e influentes famílias de Angola, os Van-Dúnem.


Título: LEVANTE, 1487. A VÃ GLÓRIA DE JOÃO ÁLVARES

Autor e Editor: José Maria Pimentel

ISBN: 978-989-8180-09-4

1º Edição: Junho 2010

Tiragem: 2.500 exemplares

Nº de páginas: 459

PVP: 17,00 €  [Ref. EDI_0005]

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